Greve dos bancários, um recorte de gênero.
A greve dos bancários acabou. Após dias de paralisação e um grande impacto social, afinal é este um dos sentidos das greves, podemos dizer que o setor bancário retomou as suas atividades. Os acordos foram selados e todos saíram felizes.
Mas e as bancárias?
Todos os acordos e reajustes foram feitos com base na situação atual, ou seja, apesar dos aumentos auferidos as mulheres continuarão ganhando cerca de 24,06% a menos que os homens segundo dados da Dieese (Departamento Intersindical de Estatísticas e Estudos Socioeconômicos). O que devemos levar em conta é que sempre há de se discutir a questão de gênero dentro dos movimentos do proletariado. Os trabalhadores têm sexos diferentes, e, infelizmente, salários igualmente diferentes.
Se por um lado esta greve teve como um dos motivos a indignação do constante desligamento de funcionários que ganhavam cerca de R$4.086,32 – que chegou a ser de 8.947 trabalhadores no primeiro trimestre de 2011 – sendo estes substituídos por novos funcionários que receberiam uma remuneração equivalente a cerca de 50% desses rendimentos, um dos motivos da estagnação dos salários neste setor. Por outro lado, a crescente contratação de mulheres no setor bancário tem como motivação os salários baixos que costumam pagar a estas trabalhadoras. Ou seja, há uma luta de classe, mas há também uma luta de gênero.
Muitas conquistas foram alcançadas e devemos reconhecer o trabalho difícil que os homens e mulheres desse setor têm que enfrentar agüentando ainda, metas abusivas e assédio moral. Vale ressaltar que de todas as bandeiras que foram levantadas na greve, a da igualdade salarial entre homens e mulheres deveria ser levada em conta de maneira mais incisiva nas negociações. Pois se estamos falado em uma greve que tem como objetivo reivindicar direitos e denunciar injustiças, não há nada mais injusto que a discriminação salarial de gênero. A luta continua.
Site recomendado: Assédio Moral no Trabalho
Inclusive isso me parece como o que acontecia durante a ditadura de Stalin, na URSS, onde as questões sexistas foram deixadas de lado, as feministas foram jogadas para postos distantes de Moscou e houve até propaganda pró-família, após a guerra.
Muito bem lembrado, Vinícius! O Hobsbawm relata contecimentos como este em seu livro “Era dos Extremos”. Mas é exatamente isso que acontece na sociedade, as questões de gênero dificilmente são levadas em conta, ainda que tratemos de questões sociais.
Muito importante este ponto de vista. Nem sempre (quase nunca) se dá espaço para a temática de gênero nos movimentos de transformação social, menos ainda nos de reivindicações pontuais. Belo artigo.